Para Ler Platão: Tomo 1

Por Marcelo Perine, diretor da coleção

Para ler Platão, projetada para três tomos, como afirma o seu autor, foi concebida para auxiliar aqueles que desejam ter e compreender os diálogos platônicos, em particular no que concerne à argumentação desenvolvida no domínio da ontoepistemologia. Fruto de uma familiaridade com o texto platônico, adquirida em longos anos de leitura, traduções e comentários, a obra de José Trindade Santos desvenda aos olhos do leitor as riquezas dos textos platônicos lidos como unidades literárias, em busca da intenção que presidiu à sua composição.

Consciente dos riscos que acarreta a sua tentativa de captar os pressupostos e as finalidades visadas por cada diálogo, e da discussão que poderá gerar o seu esforço de debruçar-se sobre o tema específico de cada diálogo, atendendo à diversidade de questões e à articulação de cada uma delas na unidade do texto, o autor não se furta ao trabalho de analisar a possível relação das questões tratadas num diálogo com a abordagem que recebe noutros, sem descuidar da espinhosa questão da unidade do corpus platônico.

Sem alimentar vãs pretensões de conquistar o consenso dos platonistas, José Trindade Santos oferece aos seus leitores a oportunidade de avaliar criticamente a aceitabilidade das propostas aqui formuladas com o rigor que tem caracterizado a sua já extensa e reconhecida obra de intérprete de Platão. O ideal de comunicação entre as diferentes perspectivas de interpretação da obra platônica, que inspira a coleção Estudos Platônicos de Edições Loyola, encontra na presente publicação uma excelente oportunidade de tornar verdadeira a sua pretensão.

Para ler Platão I

O primeiro tomo de Para ler Platão concentra-se no estudo do grupo de diálogos conhecidos pela designação socráticos e identificados com a figura do pensador Sócrates. O mestre de Platão é apresentado aqui como uma personagem literária, na boca de quem são postos teses, argumentos, opiniões, comentários e narrativas, oferecidos para animar o debate com seus interlocutores. Os dois eixos centrais da presente interpretação são o problema da metodologia seguida por Sócrates em suas refutações, junto com a concepção do saber nela implícita, e o problema da natureza da virtude, sua unidade e diversidade, o modo da sua aquisição e a possibilidade de ensiná-la.