O Pensamento do Templo

Durante muito tempo, o judaísmo antigo foi considerado uma preparação do cristianismo, mas a arqueologia e o estudo dos textos recém-descobertos tornam insustentável tal compreensão.

Confrontada com a colonização grega e com o domínio romano, a identidade da sociedade judaica entrou em crise e o laço social correu o risco de se romper. Mas, interrogando os anónimos e os simples em vez dos escribas e da elite, vemos aparecer, entre as instituições que sustentam a coesão social, em primeiro lugar o Templo, não só como edifício, com seus sacerdotes e peregrinos, polícia e cozinhas, mas como pensamento, com suas categorias do puro e do impuro, do sagrado e do profano, estendendo-se para além dos limites do santuário, desde o altar dos sacrifícios até as mesas da vida cotidiana. Nem os essênios de Qumran, nem Jesus e seus convertidos romperam definitivamente com a instituição e os ritos que sustentavam a identidade judaica. Só Paulo e os cristãos da gentilidade fariam isso.

No ano 70, o Templo de Jerusalém, lugar de encontro do povo judeu foi destruído. Mas quando o judaísmo se reformou, para lá desse trágico fim, o pensamento do Templo permaneceu,

Francis Schmidt é historiador do judaísmo na época helenista e romana. É Diretor de Estudos na École Pratique des flautes Études.